terça-feira, 28 de agosto de 2007

Anilhar para saber mais

Informação agora disponível em: http://anilhagemdeaves.weebly.com


A passarada está apreensiva: de bico em bico dizem que andam umas criaturas pelos caminhos, de balanças em punho, alicate e anilhas no bornal. Cuidado com eles! Em cada sessão marcam em média 30 aves. Consta que é para saber se os pássaros andam de um país para outro e, os que aparecerem como vieram ao mundo, têm direito a um bilhete de identidade: a argola metálica que levam na pata...


Ninguém se atrasa. Sete e 45, ainda é noite. Não está frio nesta primeira sessão de anilhagem científica orientada por António Pereira e Rui Brito, ornitólogos.
Desde 14 de Outubro, a Central Nacional de Anilhagem e o Parque Biológico de Gaia colaboram, sob coordenação do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade, num projecto europeu de Estações de Esforço Constante. Com o fito de monitorizar aves selvagens, quinzenalmente há capturas, sendo então objecto de análise biométrica.
São devolvidas estas aves à liberdade com uma anilha própria, podendo ser recapturados no mesmo sítio ou noutros países, e então aferir dados e apurar movimentos migratórios.
Tudo obedece a regras bem definidas. O bem-estar das aves é de suma importância e a interferência nos seus ritmos normais deve ser reduzida ao mínimo.

À medida que a manhã surge as espécies de aves sucedem-se. Primeiro, os piscos-de-peito-ruivo. Depois toutinegras, tanto a de barrete como a toutinegra-dos-valados, uma fartura. No oposto, um só espécime, uma ferreirinha, uma trepadeira-comum, uma carriça. Ao todo, até agora, 13 espécies.
A mais pesada, como curiosidade, uma das duas pegas-rabudas anilhadas: 155 gramas. O mais leve foi um chapim-carvoeiro: 6,8 gramas! Bateu a carriça que só pesava 8,9 gramas! O prémio foi igual ao de todos os outros: não tardaram a ser devolvidos ao bosque.

A anilha tem um código único com marca da Central de Anilhagem. Se um pisco anilhado aqui for recapturado na Primavera numa aldeia da Grã-Bretanha, será possível saber naquelas bandas todos os dados aqui recolhidos. Para estudos ornitológicos, isso tem interesse.

Um dos problemas enfrentados é a chuva. Com mau tempo, o método de captura deve ser suspenso para evitar danos.

Esperava-se já ter anilhado espécies mais vistosas como o guarda-rios ou o gavião, alguma das espécies de pica-pau residentes, mas ainda assim a surpresa foi a ferreirinha, que já não se ouvia no Parque Biológico há alguns anos.
Também, ainda a procissão vai no adro! Para que haja resultados mínimos nos estudos, este trabalho tem de ser desenvolvido durante dois anos...


Em termos de invulgaridade de design temos a trepadeira-comum, habitual no Parque, mas geralmente apenas vista ao longe como uma mancha discreta que sobe as árvores a catar insectos e que, quando nela se pousa a atenção, voa para longe...


A expectativa agora anda noutros patamares: será que algum dos pintassilgos-verdes chegados do Norte traz alguma anilha? Ou os tentilhões? Ou alguma felosa?

Se isso acontecer, será possível saber um pouco mais sobre os visitantes de penas desta reserva natural em meio urbano e juntar alguns dados à história dessa espécie. A ver vamos. Para já, esta actividade está aberta a voluntários que queiram receber formação.

Texto: Jorge Gomes

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