sábado, 29 de agosto de 2009

O voo das aves

Informação agora disponível em: http://anilhagemdeaves.weebly.com

Texto publicado na Revista Parques e Vida Selvagem de Outono de 2008:


Duas vezes por mês, há que saudar a madrugada. A tarefa impõe a anilhagem de aves selvagens com premissas científicas em vários tipos de habitat dentro da área do Parque Biológico de Gaia.
Os anilhadores credenciados pelo Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade consideram que o sacrifício vale a pena: por um lado perfila-se uma atracção pessoal pela natureza, por outro os resultados científicos — «Não interessa só anilhar aves raras! Uma rotina de anilhagem de aves tão habituais como um melro ou um pardal podem ser fonte de um conhecimento mais aprofundado sobre espécies que se pensa estarem bem estudadas mas que afinal só estão um pouco mais estudadas que outras».
Já é assim há dois anos: às escuras, as redes são montadas antes do sol nascer nos habitats respectivos. Empreitada de uma hora e pico. Depois há que retemperar forças, que a manhã ainda é menina. Uma paragem no pão quente e o regresso às redes, para desembaraçar as aves entretanto colhidas e as transportar à sala de anilhagem. Logo se vê: se alguma já tiver anilha, é uma recaptura. Após a análise do registo começa a compor-se uma história de vida do animal.
Na sala de anilhagem são colhidos os dados biométricos e aplica-se a anilha, na verdade o bilhete de identidade da ave: peso, medidas do tarso, de algumas penas, do bico...
Esta estação de esforço constante que funciona no Parque Biológico de Gaia liga-se pelo Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade a outras em serviço em Portugal e a uma rede europeia.
Mediante o método, há pesquisas científicas em curso em sítios tão distantes como o Cáucaso que precisam de saber dados genéticos de espécies de larga distribuição oriundos do Sul europeu, Açores incluído, para estudos de evolução. Está envolvido o biólogo Ricardo Lopes, do CIBO da Universidade do Porto, e um cientista ucraniano. O caminho de outras duas pesquisas cruza-se com este núcleo de trabalho: a colheita de parasitas das aves selvagens, que são enviadas para o Instituto Ricardo Jorge, e a que quer aprofundar os conhecimentos sobre os piscos-de-peito-ruivo, nas mãos de Paulo Catry.
Há formandos que cultivam esta paixão e há já mais de um ano que progridem nas técnicas envolvidas.
Com o funcionamento da anilhagem os visitantes do Parque entram na sala de anilhagem e colocam perguntas, observam o trabalho, e faz-se assim educação ambiental.

Texto: Jorge Gomes

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